RUMO AOS 200 ANOS: A primeira edição da Festa do Arroz: mais um marco na nossa história

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RUMO AOS 200 ANOS: A primeira edição da Festa do Arroz: mais um marco na nossa história
CACHOEIRA DO SUL
27 de agosto de 2019 - festaarroz

Em uma promoção conjunta da União Central dos Rizicultores, Prefeitura Municipal, Instituto Rio-Grandense do Arroz – IRGA, Associação do Comércio e Indústria de Cachoeira e associações de classe, recreativas, desportivas e trabalhistas, foi realizada, de 9 a 16 de março de 1941, a I Festa do Arroz. A festa teve a participação de municípios orizícolas do Estado. A Comissão de Honra era integrada por Cyro da Cunha Carlos, prefeito de Cachoeira, Dr. Antônio Augusto Borges de Medeiros, Cel. Osvaldo Nunes dos Santos, Comandante da Guarnição Federal de Cachoeira, e Dr. Coriolano Albuquerque, Juiz de Direito da Comarca de Cachoeira. A Comissão Central era constituída pelo Prefeito Cyro da Cunha Carlos, Floriano Neves da Fontoura, João G. Santos, Reinaldo Roesch e José Joaquim de Carvalho. As atividades constantes do programa eram de festas preliminares, de 9 a 12, e de oficiais de 14 a 16 de março.

Foto: Museu Municipal

Lucy Ribeiro foi eleita Rainha da Festa do Arroz, com 32 mil votos apurados. A Comissão Apuradora era composta por Cyro da Cunha Carlos, Floriano Neves da Fontoura, Arthur Rossarola, Dr. Fortunato Pimentel, Carlos Ghignatti e José Joaquim de Carvalho. A corte que acompanhava a rainha era formada por Emerita Carvalho Bernardes, Ruth Neves de Oliveira e Leda Duarte.

As principais casas comerciais participaram de um concurso de vitrines. Já a Praça José Bonifácio recebeu a instalação de uma mini-lavoura de arroz.

A programação da I Festa do Arroz:

Dia 9/3/1941:

– 9 horas: partida de futebol entre o S. C. Brasil, de Cachoeira, e o S. C. Internacional, de Santa Maria, no Estádio Joaquim Vidal. À noite, retretas por três bandas de música.

Dia 10/3/1941:

– Retretas.

Dia 11/3/1941:

– Penúltima apuração dos votos do concurso para eleição da Rainha do Arroz, na sede da Comissão Central.

Dia 12/3/1941: Julgamento do grande concurso de vitrines.

Dia 13/3/1941:

– Espetáculo no Cine Teatro Coliseu programado e irradiado pela P. R. F. 9 – Rádio Difusora Porto Alegrense.

– Apuração final dos votos e aclamação da Rainha do Arroz.

Dia 14/3/1941:

– 9 horas: solene recepção, na gare da Viação Férrea, ao Cel. Interventor Federal Osvaldo Cordeiro de Farias e aos visitantes oficiais, com saudação em nome da cidade pelo Dr. Jaime Machado de Oliveira.

– Inauguração, no Largo do Colombo, do monolito comemorativo da Festa do Arroz e da placa em homenagem ao rizicultor rio-grandense pelo Cel. Interventor Federal Osvaldo Cordeiro de Farias.

– Grandiosa parada das forças militares, colégios, associações de classe, recreativas, desportivas e trabalhistas em homenagem às altas autoridades.

– 10 horas: solene Missa Campal e bênção da colheita no Estádio Municipal, onde um coro de 80 vozes regido por Eduardo Schaurich entoou o Hino Nacional, cânticos religiosos e o Hino à Lavoura. Houve irradiação das cerimônias pela P. R. F. 9 (Rádio Difusora Porto Alegrense). No gramado do Estádio, havia uma cruz de 7,5 metros e a imagem de Nossa Senhora da Conceição. A missa foi oficiada pelo Monsenhor Armando Teixeira e a pregação feita pelo Padre Gregório Comassetto. 23 moças se postaram diante do altar representando os 23 municípios participantes, ostentando faixas de identificação. O município de Cachoeira estava representado pela senhorita Alba Carlos. A bênção da colheita foi feita pelo Mons. Mário Deluy, representante do Bispo D. Antônio Reis.

– 12 horas: na Empresa do Cedro, de João Castagnino & Cia., churrasco à gaúcha; hora de arte com elementos do rádio e do teatro de Porto Alegre; homenagem a Jorge Franke, pioneiro da rizicultura em Cachoeira; discurso pronunciado pelo Major Cacildo Krebs em nome das classes rizícolas; distribuição de medalhas da Liga de Defesa Nacional; coroação da Rainha do Arroz, Lucy Ribeiro, por Jorge Franke; bailado alegórico entoando a Canção da Colheita em homenagem à Rainha do Arroz; saudação à Rainha pelo poeta Lisboa Estrázulas.

– 21 horas: espetáculo irradiado pela P. R. F. 9 dirigido às autoridades e convidados em homenagem à Rainha do Arroz.

– 23 horas: baile na Sociedade Concórdia.

Dia 15/3/1941:

– 9 horas: abertura, pelo Dr. Ataliba Paz, Secretário da Agricultura, da Feira de Gado no recinto do Parque 10 de Novembro.

– 10h30: regatas; visita do Secretário a estabelecimentos industriais e pontos interessantes da cidade.

– 14 horas: no Estádio Municipal, partida preliminar de futebol entre o Guarani e o Cachoeira.

– 16 horas: partida de futebol entre Internacional e Rio Branco, de Porto Alegre, em disputa do Campeonato Festa do Arroz.

– 20 horas: congresso e sessão solene das classes rizícolas do Estado e autoridades no Cine Teatro Coliseu; espetáculo popular, no Estádio Municipal, com artistas do broadcasting e do teatro de Porto Alegre.

– 23 horas: baile para os convidados de honra no Clube Comercial.

Dia 16/3/1941:

– 10 horas: Grande Circuito Automobilístico Festa do Arroz em percurso de 150 quilômetros, no trajeto denominado Volta da Charqueada, classe livre, com a participação de ases do volante vindos de Porto Alegre e de diversas cidades do Estado, com premiação para 1º, 2º e 3º lugares nos valores de 2:000$000, 1:000$000 e 500$000, respectivamente. A corrida foi irradiada pela P. R. F. 9. (Transferido para as 14h em virtude do mau tempo).

– 14 horas: visitas oficiais ao Hospital de Caridade, estabelecimentos industriais e Usina Elétrica; grandioso desfile da lavoura, denominado Parada da Rizicultura, constante de máquinas diversas, tratores, trilhadeiras, locomóveis, carros alegóricos (com premiação para a mais bela alegoria). (Realizadas pela manhã em virtude da transferência do Circuito Automobilístico para a tarde).

– 21 horas: banquete oferecido às autoridades civis e militares, prefeitos e convidados de honra, com pronunciamentos do Dr. Sylvio Albuquerque, e do Interventor Federal Cel. Cordeiro de Farias; encerramento.

O Cel. Cordeiro de Farias citou em seu discurso o encantamento com o aspecto da magnífica cidade de Cachoeira, indiscutivelmente, uma das mais interessantes do Estado.

– 23 horas: baile na Sociedade Concórdia.

– Empresa Agrícola do Cedro: local da festa campestre para cerca de 5.000 pessoas, propriedade de João Castagnino & Cia., então o principal estabelecimento orizícola de Cachoeira. Sua produção à época era de 50.000 sacas. Estava equipada com os mais modernos maquinários, como uma usina a gás pobre, com força máxima de 360 cavalos, responsável pela captação da água do Jacuí e condução até a calha distribuidora numa produção de 900 litros por segundo; dois secadores mecanizados importados da Europa e aparelhagem completa para a seleção de sementes. Possuía a empresa cerca de 1.000 operários de todas as categorias. Grande parte dos operários residia em uma vila nas proximidades do engenho, em casas construídas segundo requisitos de higiene e conforto, alugadas a preços módicos. A vila dispunha de farmácia de emergência e assistência médica, padaria, barbearia, açougue, ferraria, carpintaria e moeda própria. Também mantinha para os filhos dos operários uma escola primária, com professora particular. A matrícula em 1941 era de 68 alunos.

– Congresso Arrozeiro de 1940: realizado em Cachoeira nos dias 7 e 8 de março de 1940, reunindo delegações das principais cidades produtoras de arroz, como Dom Pedrito, Rosário, São Lourenço, Arroio Grande, Alegrete, São Gabriel, Tapes, Canoas, Rio Pardo, Camaquã, Guaíba, São Sepé, Venâncio Aires, Itaqui, Pelotas, Livramento, Rio Grande, Uruguaiana, Viamão, Osório e Cachoeira. No Congresso foram discutidas questões ligadas à produção e comercialização do arroz, redução de impostos, organização de associações da classe, adoção de métodos mais modernos de produção, mecanização progressiva da lavoura, fixação do preço mínimo do arroz, exclusão do arroz do tabelamento oficial, regulamentação do código de águas, dentre outras.

A Festa do Arroz foi “apanhada em película cinematográfica”, tendo sido filmada pelo cinegrafista do D.I.P. – Departamento de Imprensa e Propaganda, Ramon Garcia.

Palanque oficial: distante cinco quadras do Largo da Viação Férrea.

Festa campestre: realizada à sombra de um capão de eucaliptos, onde foram colocados estrados, extensas mesas, bancadas e coretos. Na chegada das autoridades, houve discursos do Major Cacildo Krebs, Presidente do IRGA, do Dr. Orlando da Cunha Carlos, que saudou o pioneiro da rizicultura cachoeirense, Jorge Franke. Este, por sua vez, fez uso da palavra para agradecer a homenagem, lembrando dos pioneiros, já então falecidos, João Jorge Krieger, João Leitão, Fidelis Prates, Isidoro Neves da Fontoura e outros. Na sequência, a menina Zozélia Gonçalves declamou o poema Desbravadores, de Fernandes Barbosa. Depois houve o baile das camponesas, com dança típica. Declamou também uma poesia a senhorita Célia Sperb.

O churrasco, servido após a coroação da Rainha, constou de carne de gado, ovelha, doces e bebidas.

Coroação da Rainha: Avani Barcelos Cordeiro de Farias, esposa do Interventor Federal, coroou Lucy Ribeiro como Rainha da Festa do Arroz, ocasião em que o poeta riopardense Lisboa Estrázulas fez uma saudação: “Rainha do Arroz! Eu exalto, na tua graça de mulher bonita, a majestade incomparável do teu reino, onde há palácios encantados surgindo do oceano verde do arrozal em flor. (…) Rainha! A minha voz é a voz dos homens das lavouras. É a voz da legião imensa dos cultivadores da terra. Rainha! A teus pés estão os teus vassalos. Salve, Rainha!”

  • Pesquisa de Mirian Ritzel a partir das seguintes fontes:

– Cachoeira Histórica e Informativa, de Vitorino e Manoel Carvalho Portella

– Aspectos Gerais de Cachoeira, de Fortunato Pimentel, 1941

– Jornal O Comércio, 1941