O esporte cachoeirense durante muito tempo esteve com suas atenções voltadas para a Coxilha do Fogo, um campo de futebol localizado na Rua Coronel João Leitão entre os bairros Barcelos e o Soares. Este campo foi palco de grandes jogos e também de muitos desentendimentos, brigas e confusões. Daí o nome de Coxilha do Fogo. Com o passar do tempo, casas e casas foram surgindo na área e o campo desapareceu.
A Coxilha do Fogo tinha uma das laterais quase na rua e no meio tinha uma passagem – espécie de um corredor sem grama – utilizada por pessoas e carroceiros para acessar a região onde hoje está localizado o Bairro Soares. Mesmo assim, jogar na Coxilha do Fogo era o máximo. Atrás de uma das goleiras era só unha de gato e ali também tinha um poço sem água de grande profundidade. Muitas bolas caíam no poço e não havia meios de resgatá-las. Bem perto também cruzava os trilhos da antiga RFFSA, onde hoje está o Beco dos Trilhos.
Grandes clássicos foram disputados na Coxilha do Fogo. Nos torneios, as equipes se reuniam em um mato de eucaliptos – área ocupada hoje pela Escola Liberato – que havia na frente do campo. Ali, os jogadores colocavam o fardamento e em fila atravessavam a rua para disputarem as partidas.
Foram várias as confusões na Coxilha do Fogo em meio às brigas entre jogadores e discussão com os árbitros, mas um episódio marcou ainda mais o estigma da Coxilha do Fogo. Em uma das partidas, o árbitro era Sátiro Machado, o Sadi, como era chamado. Era enérgico e sabia conduzir o jogo, por isto, era respeitado. Só que uma vez, o caldo engrossou. Ele marcou uma falta e imediatamente foi gerada uma confusão, porque vários jogadores não concordaram com a decisão e foram pra cima do Sadi. Foi um empurra-empurra.
No meio do tumulto, se ouviu o grito do Sadi: “Não vem” e levou uma das mãos à cintura. Imediatamente alguém também gritou: “O juiz está armado. Tem uma faca”. Ora, isto provocou uma correria de jogadores, dirigentes e torcedores que ficavam ao redor do campo. Na realidade, todos sabiam que o Sadi tinha uma faca – era pequena – que levava consigo, mas ele a utilizava para descascar laranja. Bem poucos sabiam que Sadi deixava esta faca na mesa (onde ficava alguém controlando a súmula e as substituições). Era chegar perto para ver a faquinha embaixo de papéis. Resumindo: após a correria, Sadi voltou a gritar: “Não tenho faca nenhuma”. Foi um alívio. Depois de um certo tempo todos voltaram para o reinício da partida com os ânimos sob controle.
Diversas equipes jogaram na Coxilha do Fogo, Algumas sistematicamente eram vista no campo em jogos de campeonatos, torneios ou amistosos como o Esporte Clube Avenida, Cruzeiro (para muitos era o Cruzeirinho), Benfica, 14 de Julho, Tulipa, Gauchinho, Madureira, Água Negra, Barcelona e Santos.
A Coxilha do Fogo revelou grandes competições e grandes atletas. Muitas que por ali jogaram foram jogadores de equipes amadoras e até do Cachoeira Futebol Clube. Assim, a área que está hoje entre os bairros Barcelos, Tupinambá e Barcelos faz parte da história do futebol da várzea de Cachoeira do Sul, um legado que ainda está na memória de muitos cachoeirenses. Afinal, muitos guardam fotos e outros fizeram registros em livros.