Não é de agora. É de muito tempo que Cachoeira do Sul se envolve com a instalação de um porto no Rio Jacuí e também com um entroncamento rodo-hidro-ferroviário. Lá se vão mais de 30 anos. Trata-se de uma novela de capítulos sem fim que até agora só trouxe expectativa para a economia da cidade, mas passa governo entra governo e tudo continua na mesma.
A ideia é boa. Concentrar em Cachoeira do Sul o transporte de grãos de várias regiões do RS, através dos modais rodoviário e ferroviário e, após, realizar o escoamento pela hidrovia do Rio Jacuí. Só que na prática é preciso uma navegação constante com a participação de empresas interessadas, para que o transporte aconteça até o porto de Rio Grande. Ainda tem o Estado que, por sua vez, deve cumprir a sua parte: investir na manutenção da hidrovia e, desta forma, proporcionar condições de navegabilidade.
Na década de 80, o tal de entroncamento ganhou força e a instalação do porto de Cachoeira era manchete constante. A tal ponto que o Governo do Estado investiu na construção de uma plataforma de concreto nas margens do Rio Jacuí atrás do prédio da antiga Charqueada na chamada área portuária. Ao mesmo tempo, um ramal ferroviário de 2,5 Km foi construído ligado a rede férrea principal até a área do porto. Os valores investidos na época não foram poucos. O projeto envolveu o governo estadual e a Prefeitura que desapropriou áreas na Volta da Charqueada para a passagem dos trilhos em meio a propriedades rurais.
Quase 30 anos depois o que se tem de concreto? Sim, tem concreto. Trata-se de uma plataforma construída para carga e descarga, mas que virou local de visitação popular e também para ponto de pesca. Tem o ramal ferroviário tomado pela vegetação desaparecido embaixo da terra e a hidrovia navegável, no entanto, nunca foi devidamente dragada e sinalizada. Em meio a este contexto de abandono, o transporte rodoviário ganhou mais força do que já tinha em detrimento do ferroviário e da navegação.
Cachoeira do Sul tem um rio navegável. Tanto que em 1955 embarcações com produtos diversos trazidos de Porto Alegre atracavam no final da Rua Moron. Eram as chamadas “gasolinas” e o transportador era realizado pelo cachoeirense Dorival Gomes. Só que com o tempo transporte rodoviário se avolumou e aí o que se viu foi milhares de caminhões diariamente por nossas rodovias. No entanto, mesmo assim presenciamos no Rio Jacuí embarcações que vinha até ao complexo da Cesa em busca de grãos. Tudo porque neste local existe um termina de carga.
Em 1991, uma entidade – a Associação dos Jovens Empresários (Ajovem) – realizou um estudo sobre a potencialidade do transporte hidroviário no município. Na época foi revelado que um milhão de toneladas em cargas granéis de trigo, soja e calcário poderiam ser transportadas. A Ajovem também informava que um barco de 700 toneladas correspondia a 23 caminhões de 30 toneladas. Era a busca pela reativação da economia de Cachoeira e também da região central.
Ao longo do tempo, a navegação sem apoio como a existência de linhas de crédito por parte de instituições privadas ou governamentais para investimento em infraestrutura (barcos, local e cargas) perdeu cada vez seu espaço.
Hoje temos sim uma área portuária envolvendo o prédio da antiga charqueada fazendo divisa com a Granol, um projeto de distrito industrial e uma hidrovia cheia de entulho, além de um ramal férreo debaixo da terra.
Devemos perder a esperança? Entendo que não. A própria Granol – que hoje recebe em torno de 100 caminhões diários carregados de soja – e agora a Pradozem proprietária do antigo complexo da Cesa – manifestam interesse em utilizar a hidrovia do Jacuí. Então, que possamos visualizar no futuro embarcações no Jacuí num incremento neste transporte, que comprovadamente tem custo mais barato que o rodoviário.