A ansiedade é um tema com muitas frases de efeito nas redes sociais, e por engano meu, acreditei que muitas pessoas compreendem do que se trata, mas uma das maravilhas do atendimento clínico é a possibilidade de aprender sempre com nossos pacientes… Muitas pessoas quando procuram atendimento se definem como ansiosas, mas quando questiono o que elas compreendem por ansiedade, muitas tem dificuldade em definir o conceito, entretanto, adotam o mesmo como autodiagnóstico.
Etimologicamente, a palavra ansiedade provém do termo grego anshein , que significa “estrangular, sufocar, oprimir. Na antiguidade foram registrados na Grécia clássica os primeiros sinais sobre ansiedade relacionando a sintomas corporais. Ainda na idade média a ansiedade não era caracterizada como uma doença, embora Hipócrates já tivesse acompanhado casos de fobias naquela época.
E para tentar auxiliar um pouco na compreensão dessa enigmática, vou adotar a definição e três autores que já em 1985 ofereceram uma perspectiva um pouco diferenciada para seus contemporâneos. Para Beck, Emery e Greenberg é importante diferenciar medo de ansiedade, definido o medo como um processo cognitivo envolvendo a avaliação de que há perigo real ou potencial em uma determinada situação, já ansiedade é uma resposta emocional provocada pelo medo. Logo, medo é avaliação de perigo, e ansiedade o estado de sentimento desagradável evocado quando o medo é estimulado.
Ansiedade, portanto, é um sistema de resposta cognitiva, afetiva, fisiológica e comportamental complexo onde entramos em “modo de ameaça” que é ativado quando eventos ou circunstâncias antecipadas são consideradas altamente aversivas por serem considerados imprevisíveis e que poderiam potencialmente ameaçar os interesses vitais de um indivíduo, e que o faz sentir-se incapaz de ter controle sobre o que virá.
Vamos para um exemplo prático, utilizando uma situação que quase todos nós vivenciamos algum momento na vida, que é precisar ir à emergência de um hospital. A sensação de medo que temos quando o médico ou profissional da enfermagem aplica algum medicamento sem nos dizer o que está fazendo (felizmente isso é raro atualmente) a sensação de não estar com o controle sobre o que vai acontecer aumenta as chances de nos sentirmos ansiosos, justo porquê não sabemos o que vai acontecer, e logo todo tipo de pensamento catastrófico toma conta de nós. Entretanto, quando os profissionais nos informam passo a passo o que pretende fazer e as possíveis reações que teremos, nos coloca novamente no controle da situação, diminuindo nosso nível de ansiedade nos deixando seguro e capaz de identificar o que é o efeito esperado de uma medicação, por exemplo.
A ansiedade mostra sua face em sintomas fisiológicos como aumento da frequência cardíaca, falta de ar, respiração rápida, só para citar os mais comuns. Já os sintomas cognitivos incluem medo de perder o controle, medo de “ficar louco”, pensamentos ou imagens aterrorizantes. Nos sintomas comportamentais pode-se observar evitação, fuga, congelamento, dificuldade para falar. E de todos esses sintomas o que mais conseguimos perceber claramente são os afetivos e que geralmente são os que conseguimos expressar mais claramente como estar nervoso, assustado, irritado, impaciente, frustrado ou tenso.
É uma emoção orientada para o futuro, e não é totalmente negativa, pois na medida certa nos prepara para defesa, ou evitação em situações de perigo real, já que é uma emoção orientada para o futuro, quando está em níveis saudáveis favorece nosso preparo para lidar com determinadas situações.
Porém, ela nem sempre estará um nível saudável e que não nos cause prejuízo. A ansiedade quando chega a níveis muitos elevados nos impede de realizar muitas coisas importantes na nossa vida, porque torna-se paralisante. Ela é também uma senhora complexa e de muitas faces, tanto que ela ganhou uma família nas mãos dos estudiosos que a transformaram em um grupo de doenças relacionadas a ela , que são os chamados “Transtornos de Ansiedade”, onde estão desde a ansiedade generalizada até a fobia social, só para citar alguns membros mais ilustres dessa família.
E como mencionei no início deste texto, há uma ampla divulgação sobre o tema, mas muitas vezes percebo que é tratada como algo simples de resolver, como se o ser humano tivesse um botão de liga e desliga dessa emoção, mas lamento informar que é preciso, muitas vezes um longo trabalho multiprofissional para que essa senhora fique sossegada contemplando apenas a paisagem.
Portanto, não desqualifique ou coloque como “defeito” em alguém o termo “ansioso” e sim ofereça escuta, ajuda e segurança e quando não conseguir lidar com isso sozinho, não espere ter prejuízos significativos em sua vida para procurar ajuda profissional E para finalizar deixo com vocês uma reflexão do jornalista americano Mignon MacLaughlin que em 1915 a definiu da seguinte maneira: “O amor olha para frente, o ódio olha para trás, e ansiedade tem olhos por toda cabeça”.
Vanessa Santos – Psicóloga CRP 07/25298
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