O mercado de trigo no Sul do Brasil tem enfrentado um cenário de negociações lentas e marcadas pela cautela, tanto de vendedores quanto de compradores. De acordo com a empresa de consultoria TF Agroeconômica, a dinâmica atual reflete desafios locais e regionais, como baixa demanda e dificuldades em alinhar os custos de produção e preços finais, em um momento estratégico para os próximos meses.
Trigo no Rio Grande do Sul: estoques robustos, mas negociações travadas
No Rio Grande do Sul, apesar da disponibilidade significativa de 1,845 milhão de toneladas, a comercialização está emperrada. A presença de trigo argentino no porto de Rio Grande adiciona um elemento de competição, dificultando ainda mais as vendas do produto local. Os vendedores têm buscado negociar trigo padrão moagem com maior liquidez, concentrando ofertas próximas aos centros logísticos e ferroviários.
Os preços indicados pelos compradores na Serra giram em torno de R$ 1.300,00 por tonelada para embarques a partir de janeiro, com pagamentos em março. Já os moinhos no interior do estado oferecem valores mais baixos, em torno de R$ 1.250,00. Essa discrepância nas expectativas mantém as negociações lentas, especialmente com a alta demanda de outros estados ainda não refletida em movimentações mais significativas.
O Rio Grande do Sul, maior produtor de trigo do Brasil, dedicou cerca de 1,34 milhão de hectares ao cultivo do cereal na safra 2024, um leve aumento em relação ao ciclo anterior. A produção estadual está estimada em 4,19 milhões de toneladas, refletindo uma recuperação nas condições climáticas e produtivas em relação à safra anterior
Trigo em Santa Catarina: preços divergentes e mercado retraído
Em Santa Catarina, o ritmo do mercado segue lento, influenciado pela fraca demanda por farinhas. Enquanto os moinhos indicam preços de R$ 1.350,00 CIF para entregas futuras, os vendedores mostram resistência, apostando em uma possível alta de preços no médio prazo. Além disso, a dificuldade de alinhar os custos da matéria-prima com os preços das farinhas tem criado um impasse que paralisa as negociações.
Apesar da cautela, tanto vendedores quanto compradores reconhecem que o cenário pode se alterar nas próximas semanas, conforme o mercado absorva os estoques disponíveis e os custos de produção se ajustem.
Trigo no Paraná: resistência e busca por margens de lucro
No Paraná, os preços do trigo recuaram levemente, mas ainda garantem margem de lucro próxima a 3,66%, graças à redução nos custos de produção. Os moinhos têm oferecido entre R$ 1.350,00 e R$ 1.400,00 por tonelada, dependendo da região, mas enfrentam resistência dos vendedores, que estão focados em negociações para janeiro e fevereiro.
O trigo gaúcho, embora disponível a R$ 1.250,00 FOB, não tem atraído os moinhos paranaenses devido aos custos adicionais de frete e ICMS, que tornam o produto menos competitivo. Esse contexto contribui para um mercado com baixa liquidez, enquanto os agentes tentam alinhar estratégias para os primeiros meses de 2024.