A Organização Mundial da Saúde (OMS) está mobilizada para investigar uma doença misteriosa que vem alarmando a província de Kwango, no sudoeste da República Democrática do Congo (RDC). Com sintomas como febre, tosse, dificuldade para respirar, dor de cabeça e anemia, o surto já resultou em pelo menos 79 mortes, segundo autoridades locais, enquanto 394 pessoas foram infectadas. A gravidade da situação tem chamado a atenção global, com temores de uma nova emergência de saúde pública.
O que se sabe até agora sobre a doença?
Os casos foram registrados principalmente na comunidade rural de Panzi, localizada a mais de 700 km da capital Kinshasa. As mortes, que ocorreram entre 10 e 25 de novembro, afetaram em grande parte crianças menores de cinco anos. Este dado reforça as preocupações de que fatores como desnutrição, infraestrutura precária e acesso limitado à assistência médica estejam agravando o impacto da doença.
Os sintomas iniciais indicam uma possível doença infecciosa de transmissão respiratória, levando os especialistas a investigar vínculos com influenza, COVID-19, malária e sarampo. Amostras estão sendo coletadas e analisadas por equipes da OMS e do Centro Africano de Controle e Prevenção de Doenças (África CDC) para identificar o agente causador.
Desafios no sistema de saúde da RDC
A RDC enfrenta um sistema de saúde fragilizado, com múltiplos surtos simultâneos. Atualmente, o país também lida com a forma mais letal da mpox (antiga varíola dos macacos), que já causou 1.647 casos confirmados e cerca de 10.875 suspeitos até novembro de 2024. O clado Ib, responsável pelo atual surto de mpox, apresenta uma taxa de letalidade de até 10%, muito superior ao clado anterior, que era de 1%. Além disso, doenças endêmicas como ebola continuam a circular na região.
A resposta das autoridades para o caso no Congo
A OMS mobilizou uma equipe multidisciplinar de epidemiologistas, técnicos de laboratório e especialistas em controle de infecções para atuar na região. Kits de diagnóstico e medicamentos essenciais foram enviados para apoiar o tratamento e mitigar os impactos. “Nossa prioridade é fornecer suporte às famílias afetadas e identificar a causa dessa doença o mais rápido possível”, afirmou Matshidiso Moeti, diretora regional da OMS para a África.
Por que o mundo está em alerta?
Embora as investigações estejam em estágio inicial, especialistas enfatizam que não há motivo imediato para pânico. A infectologista Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, aponta que a localização rural e a baixa mobilidade da população têm contribuído para a contenção do surto até o momento. “Os dados sugerem que estamos lidando com uma doença infecciosa respiratória, mas é importante lembrar que o contexto local, como desnutrição e precariedade nos serviços de saúde, é um agravante para as mortes”, explica.
Ainda assim, o histórico de doenças zoonóticas na região e a fragilidade do sistema de saúde preocupam. Casos recentes de disseminação de doenças infecciosas de origem desconhecida reforçam a necessidade de vigilância e colaboração internacional.
Próximos passos e recomendações
As autoridades locais estão orientando a população a evitar aglomerações, adotar práticas básicas de higiene e reportar qualquer caso suspeito. A OMS garantiu que divulgará informações sobre o patógeno assim que os resultados laboratoriais estiverem concluídos.
Enquanto isso, especialistas ressaltam a importância de esforços globais para apoiar a RDC. “Doenças misteriosas em áreas vulneráveis podem ter implicações globais. É fundamental que as organizações internacionais atuem de forma coordenada para evitar que problemas locais se transformem em crises globais”, alerta Richtmann.
O mundo aguarda ansiosamente por respostas. O surto em Kwango não é apenas um desafio local, mas um lembrete de que emergências de saúde pública demandam atenção, solidariedade e ação rápida em escala global.