Alceri Gomes: ocupação recebe o nome de operária cachoeirense no ABC Paulista

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Alceri Gomes: ocupação recebe o nome de operária cachoeirense no ABC Paulista
ESPECIAL
24 de novembro de 2024 - Alceri Gomes / Crédito: Reprodução

O ABC Paulista registrou o surgimento da Ocupação da Mulher Operária Alceri Gomes, neste sábado (23). A mobilização evidencia o nome de uma operária cachoeirense. Localizada em São Caetano do Sul, o ato é dito como uma “denúncia à violência contra as mulheres na região e à insuficiência de políticas públicas e amparo da Prefeitura da cidade”, de acordo com o Movimento de Mulheres Olga Benario, que organiza a ocupação.

Crédito: Movimento de Mulheres Olga Benario / Reprodução

Crédito: Movimento de Mulheres Olga Benario / Reprodução

Segundo os organizadores, o imóvel estaria abandonado há mais de 20 anos, acumulando entulho e não cumprindo função social. O espaço deve passar a contar com cozinha comunitária e creche.

Crédito: Reprodução

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Quem foi Alceri Gomes?

O Movimento de Mulheres Olga Benario buscou homenagear a cachoeirense, nascida em 1943. Alceri Gomes foi uma operária negra que fez parte da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), organização que lutou contra o regime militar no Brasil. Segundo sua biografia no Memorial da Resistência, Alceri se filiou ao Sindicato dos Metalúrgicos e iniciou sua militância operária em uma fábrica de Canoas.

Crédito: Reprodução

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Em 1969, a operária de Cachoeira do Sul se mudou para São Paulo. No ano seguinte, aos 26 anos, Alceri foi assassinada e seu cadáver teria sido escondido por tropas ligadas ao regime militar.

Confira a seguir o manifesto da Ocupação da Mulher Operária Alceri Gomes:

POR UMA CIDADE DAS MULHERES E DO POVO TRABALHADOR!

“A cidade de São Caetano do Sul conta com 158.024 habitantes. A região em que hoje fica o município é ocupada desde o século XVI, quando era conhecida como Tijucuçu (território indígena). Depois, foi área de fazendas de moradores do antigo povoado de Santo André da Borda do Campo.

Com a fixação das primeiras indústrias em 1916, São Caetano foi elevado a Distrito. O município foi emancipado de Santo André em 1948, após manifestações e plebiscitos. A história de São Caetano do Sul, assim, não se separa das outras cidades do ABC que são vilas industriais operárias, marcadas por manifestações, greves, lutas populares contra a carestia e pelo fim da ditadura militar.

Atualmente, a cidade é conhecida por seus índices positivos, sendo o IDH mais alto do Brasil e a expectativa de vida de 78,2 anos. O que esses índices escondem, porém, é que quem está no poder em São Caetano, trabalha para expulsar os pobres que têm dificuldade de pagar aluguel para os municípios vizinhos, esconde os dados e impede os trabalhadores de terem pleno acesso aos seus direitos. Retiraram o território de Heliópolis e Vila Palmares dos limites da cidade por serem bairros pobres, com o objetivo de construir “um pedacinho da Europa no Brasil”.

Por isso, grande parte dos operários e operárias que trabalham nas indústrias de São Caetano e contribuem para a riqueza da cidade, moram em cidades como Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

Mas não é só isso. Em São Caetano só pode ser atendido no SUS e em outros serviços públicos quem apresentar a carteirinha de morador da cidade, o que fere o princípio de universalidade do SUS. Assim, os trabalhadores que moram em outras cidades, mas trabalham em São Caetano, não têm acesso a saúde pública quando precisam.

Além disso, a violência contra as mulheres cresceu 12% no último ano em São Caetano do Sul. Mas sabemos que muitas vezes as mulheres que não tem a carteirinha de moradora, procuram a delegacia e não conseguem fazer o B.O. nem serem atendidas. Assim, muitas denúncias de assédio de violência que acontecem em SCS, são registradas em Santo André ou em outras cidades. Esse cenário é ainda pior porque o prefeito José Auricchio Junior, saiu do Consórcio Intermunicipal do ABC junto com o fascista Orlando Morando (prefeito de São Bernardo do Campo), que é o órgão responsável por gerir as Casas Abrigos para as mulheres vítimas de violência doméstica. Assim, ele deixou de financiar essas políticas e as mulheres de São Caetano não podem mais acessar as políticas regionais.

O resultado disso são os feminicídios que têm acontecido na cidade: Para piorar, nenhum serviço para as mulheres na cidade é 24h. Mesmo com a sanção do presidente Luiz Inácio da Silva (PT) à lei federal 14.541, que determina o funcionamento das DDMs (Delegacias de Defesa da Mulher), por 24 horas diárias, ou seja, sem interrupção, não há prazo para as cinco delegacias do ABC se adequarem às diretrizes.

Como se não bastasse, também não existe democracia na Câmara Municipal de São Caetano do Sul. Diferente das outras cidades do ABC, não existe nenhum espaço para Tribuna Popular na Câmara e os moradores que sofrem diariamente com o descaso do governo não tem nenhum espaço para pedir ajuda.

Mais um escândalo da cidade foi quando o mesmo prefeito que boicotou as políticas para mulheres, (o Auricchio), chamou a única vereadora mulher da cidade de “tchutchuca” em evento de campanha. Isso mostra a ideologia fascista e misógina que carrega para governar a cidade. As mulheres têm o direito de falar e ocupar os espaços de poder!

Tudo isso é feito para aumentar as políticas de privatizações, retiradas de direitos e massacre ao povo trabalhador e as mulheres. Em São Caetano já existem escolas municipais privatizadas, servindo de modelo para o governador fascista Tarcisio privatizar todo o estado de São Paulo. A maior parte dos servidores hoje são terceirizados, pois não abre concurso há muito tempo. O reajuste real dos salários também não acontece e as condições de vida só pioram. Se depender do prefeito eleito para 2025, Tite Campanella, a empresa de água SAESA estará em vias de se privatizar, assim como o terminal de ônibus. Tite Campanella é continuidade da política fascista de Auricchio, Tarcísio e Bolsonaro. Querem expulsar as trabalhadores e trabalhadores de São Caetano e construir uma cidade privatizada, com mentiras, sangue e violência.

A luta das mulheres operárias

Por isso, o Movimento de Mulheres Olga Benario decidiu lutar!

No Estado de São Paulo são 3 milhões de operários, entre eles, 1 a cada 4 é mulher, representando 736 mil operárias. A força dessas mulheres foi provada ao longo da história, sendo determinantes em inúmeras greves e protestos que conquistaram direitos para toda a classe trabalhadora.

Nas fábricas, a maior parte do que é produzido vai para o bolso dos ricos, enquanto a classe operária sofre com os baixos salários e o aumento da exploração e miséria. Em média, o salário de operárias é 14,7% menor que o salário dos homens na indústria, de acordo com a FIESP. Essa situação só se sustenta a partir das ameaça de demissão e assédios constantes impostos pelos patrões contra as mulheres.

Além da exploração que vivem nas fábricas, com longas jornadas de trabalho mal remuneradas, 11,3 milhões de mães em todo o país têm de cuidar de seus filhos sozinhas e passam seus poucos dias de folga também trabalhando. Apesar dos desafios, não faltam exemplos de lutas das mulheres operárias na nossa história. A primeira greve geral do Brasil, em 1917, foi desencadeada pelas mulheres de uma fábrica têxtil em São Paulo. Historicamente, as operárias do ABC Paulista também foram vanguarda na construção de mobilizações por creches para suas crianças.

No mundo, a luta das operárias já conquistou uma sociedade onde havia lavanderias coletivas, creches nas fábricas e escritórios, intervalos no trabalho para as mães irem à creche amamentar e uma jornada de trabalho reduzida para 6 horas: a sociedade socialista. Era, principalmente, uma sociedade onde as mulheres operárias, junto aos demais operários, tomavam as decisões sobre a produção e onde ela servia para o bem-estar dos trabalhadores, e não para o lucro de uma minoria. Os exemplos demonstram que só lutando por uma sociedade socialista as mulheres, especialmente as operárias, poderão conquistar seus direitos e sua libertação.

Por tudo isso, nasce a Ocupação da Mulher Operária Alceri Maria Gomes da Silva!

Uma mulher negra, operária, que participou ativamente da luta pelo fim da ditadura militar e pela construção da sociedade socialista!

Pelo mês da Consciência Negra e pelo Fim da Violência contra as mulheres!

Nasce, pelas mãos das mulheres, um espaço livre de fome e de violência! Um espaço seguro para as mulheres! Em que as denúncias serão ouvidas! Em que o trabalho vale a pena! Em que as crianças e mulheres não são exploradas nem violentadas! Onde os princípios são o socialismo e a alegria de viver!

Por isso, é nosso papel:

Apoiar mulheres em situação de violência e ajudá-las a acessar os serviços públicos!
Divulgar os serviços que existem e lutar por sua melhoria!
Prevenir a violência contra a mulher através de formação e campanhas!
Organizar as mulheres para lutar pelo fim da violência e contra o fascismo!
Nossas reivindicações são:

Volta imediata de São Caetano para o Consórcio Intermunicipal do ABCDMRR
Abertura de uma Tribuna Popular na Câmara de São Caetano
Fim das terceirizações e abertura de concurso público!
Garantia das Delegacias 24 horas no ABC
Garantia de vagas em creches para todas as mulheres trabalhadoras!
Pelo fim do assédio no trabalho!
Pelo fim da expulsão dos pobres do centro!
Eles defendem a ditadura militar e a tortura e nós defendemos as mulheres operárias que lutam pelo prato de comida para suas crianças, pela moradia e por uma vida digna e livre de violência!

Por nós e por todas as que tombaram.

Alceri Gomes Vive!”