Alerta sobre surto de coqueluche destaca caso em Cachoeira do Sul

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Alerta sobre surto de coqueluche destaca caso em Cachoeira do Sul
CACHOEIRA DO SUL
19 de novembro de 2024 - Crédito: Freepik

O Rio Grande do Sul já registrou neste ano, até o momento, 166 casos de coqueluche distribuídos por todas as faixas etárias, com maior concentração em menores de um ano. Um dos registros é de Cachoeira do Sul, conforme levantamento incluso no alerta da Secretaria Estadual da Saúde (confira mais abaixo).

O aumento que isso representa em relação aos últimos anos, visto também no Brasil como um todo e em outros países, é um alerta que faz a Secretaria Estadual da Saúde (SES) reforçar a importância para a vacinação contra a doença. Para as crianças, são duas as vacinas previstas que protegem da coqueluche: a pentavalente e tríplice bacteriana, com doses a partir dos dois meses de idade até os quatro anos, conforme esquema preconizado pelo Programa Nacional de Imunizações.

No Brasil, até o dia 9 deste mês, já foram confirmados mais de 3,2 mil casos. Os estados com maior número de registros são Paraná (1.229), São Paulo (831), Minas Gerais (384), Rio de Janeiro (259) e Distrito Federal (163). Em outros países, também foi identificado aumento nos casos, como nos Estados Unidos, Austrália, Canadá, Israel e Reino Unido.

No Estado, ao comparar com anos anteriores no mesmo período, 2024 ainda está aquém das confirmações de 2017 (245), próximo a 2018 (154) e acima de 2019 (55). Os anos de maior circulação no Estado (considerando a série histórica desde 1999) foram 2012 e 2013, quando, no mesmo período, 583 e 478 casos haviam sido confirmados respectivamente. Em 2014 foram 205 casos no período. Historicamente a temporada de maior circulação no Estado é justamente a que nos encontramos, primavera e início do verão.

Conforme a especialista em saúde do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Lara Crescente, os anos de 2020 a 2023 foram atípicos para circulação da coqueluche. Ela aponta como possíveis causas para isso as medidas de isolamento e uso de máscaras na pandemia pela covid-19, que reduziram a transmissão de doenças respiratórias no geral, assim como o uso mais amplo de antibióticos para casos de problemas respiratórios e o padrão da doença de ciclos hiperendêmicos a cada três a cinco anos.

 

A doença

A coqueluche é uma doença infecciosa aguda, respiratória, de alta transmissibilidade. Uma pessoa doente pode infectar até 17 pessoas suscetíveis. É de notificação compulsória e imediata (até 24 horas) frente à suspeita, devendo ser comunicada à vigilância municipal.

A transmissão ocorre por gotículas ao falar, tossir ou espirrar. A doença é causada por uma bactéria chamada Bordetella pertussis. Possui como sintomas acessos de tosse e evolução em três fases:

  • Fase inicial (catarral): começa como um resfriado comum, com sintomas leves como febre baixa, mal-estar geral, coriza e tosse seca. Gradualmente, a tosse se torna mais intensa e frequente evoluindo para crises de tosse. Pode durar de uma a duas semanas.
  • Fase de tosse intensa (paroxística): geralmente é afebril ou com febre baixa, mas em alguns casos, ocorrem vários picos de febre no decorrer do dia. A tosse se torna muito forte e incontrolável, com crises súbitas e rápidas que podem causar vômitos. Durante essas crises a pessoa pode ter dificuldade para inspirar, apresenta rosto vermelho (congestão facial) ou azulado (cianose) e, às vezes, fazer um som agudo ao inspirar (guincho). Essa fase pode durar de duas a seis semanas.
  • Fase de recuperação (convalescença): a tosse começa a diminuir em frequência e intensidade, mas pode persistir por duas a seis semanas ou por até três meses. Infecções respiratórias de outra natureza, durante essa fase, podem fazer a tosse intensa (paroxismos) voltar temporariamente.

 

Diagnóstico

O diagnóstico laboratorial é realizado a partir do isolamento da bactéria (a Bordetella pertussis) em cultura ou pela técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real de material colhido de nasofaringe, em todas as faixas etárias. A coleta de amostra deve ser realizada antes do início do tratamento com antibiótico, no máximo, até três dias após seu início. Na impossibilidade da coleta do caso suspeito, pode ser realizada coleta de comunicante próximo (residente do mesmo domicílio) que não esteja em uso de antibiótico.

O Laboratório Central do Estado (Lacen/RS) disponibiliza material para coleta às vigilâncias epidemiológicas municipais e executa o PCR e a cultura da totalidade das amostras recebidas.

 

Vacinas

A coqueluche é uma doença prevenível por meio da vacinação, fazendo parte do calendário vacinal infantil. As vacinas indicadas são a Vacina Pentavalente, que protege contra a difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e Haemophilus influenzae tipo b, e a Vacina Tríplice Bacteriana, que protege contra difteria, tétano e coqueluche. O esquema vacinal preconizado são três doses da Vacina Pentavalente (aos dois, quatro e seis meses de idade) e mais dois reforços com a Vacina Tríplice Bacteriana (aos 15 meses e 4 anos de idade).

Desde 2014, as gestantes recebem no pré-natal, a partir da 20ª semana, a Vacina dTpa (Vacina Tríplice Bacteriana Acelular) com objetivo de proteger o recém-nascido contra a coqueluche. Os lactentes jovens (menores de seis meses) são o grupo de risco para complicações (pneumonias, bronquiectasias, enfisema, pneumotórax, encefalopatia) e óbitos. No período de entre 2007 até 2017 foram 21 óbitos por coqueluche no Estado, a totalidade desses em crianças com até seis meses de idade. Não houve novos óbitos após 2017.

Nos últimos cinco anos no RS as coberturas vacinais relativas à pentavalente e primeiro reforço da tríplice bacteriana (DTP) tem se mantido abaixo da meta preconizada de 95%.

Coberturas vacinais

2024 (parcial)

  • Pentavalente: 88,53%
  • Tríplice bacteriana (DTP – 1º reforço): 82,85%

2023

  • Pentavalente: 89,29%
  • Tríplice bacteriana (DTP – 1º reforço): 80,84%

 

Casos confirmados de coqueluche por município de residência em 2024 (até 18/11):

  • Alvorada: 8
  • Barra do Ribeiro: 2
  • Cachoeira do Sul: 1
  • Camaquã: 1
  • Campo Bom: 1
  • Canela: 1
  • Canoas: 7
  • Capão da Canoa: 1
  • Carlos Barbosa: 1
  • Cerro Branco: 1
  • Charqueadas: 2
  • Dois Irmãos: 1
  • Dois Irmãos das Missões: 1
  • Estância Velha: 1
  • Farroupilha: 2
  • Gramado: 19
  • Gravataí: 2
  • Guaíba: 2
  • Ivoti: 2
  • Montenegro: 2
  • Novo Cabrais: 1
  • Novo Hamburgo: 3
  • Pelotas: 1
  • Porto Alegre: 79
  • Presidente Lucena: 1
  • Protásio Alves: 1
  • Rio Grande: 1
  • Santa Rosa: 1
  • Santa Vitória do Palmar: 1
  • São Leopoldo: 6
  • Sapucaia do Sul: 3
  • Tramandaí: 1
  • Três Coroas:
  • Tupandi: 1
  • Viamão: 6

 

Série histórica de dados de coqueluche no RS, 1999 – 2024*

Ano – casos confirmados / óbitos

  • 1999 – 3 / 1
  • 2000 – 4 / 0
  • 2001 – 42 / 0
  • 2002 – 60 / 0
  • 2003 – 92 / 4
  • 2004 – 276 / 5
  • 2005 – 191 / 5
  • 2006 – 113 / 2
  • 2007 – 129 / 0
  • 2008 – 207 / 1
  • 2009 – 128 / 0
  • 2010 – 106 / 0
  • 2011 – 150 / 2
  • 2012 – 772 / 10
  • 2013 – 517 / 2
  • 2014 – 260 / 1
  • 2015 – 127 / 0
  • 2016 – 111 / 2
  • 2017 – 318 / 3
  • 2018 – 167 / 0
  • 2019 – 65 / 0
  • 2020 – 11 / 0
  • 2021 – 11 / 0
  • 2022 – 37 / 0
  • 2023 – 22 / 0
  • 2024* – 166 / 0

Fonte: 1999 a 2006 – NEP e 2007 a 2024-SINAN/CEVS/SES-RS. Dados sujeitos a alteração. (*2024 – até Semana Epidemiológica 45)