Mafalda vira animação na Netflix!

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Mafalda vira animação na Netflix!
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8 de agosto de 2024 - Mafalda na Netflix / Crédito: Divulgação

A personagem Mafalda, criada pelo cartunista argentino Joaquín Salvador Lavado, conhecido como Quino, vai virar animação na Netflix. Uma das figuras mais icônicas e queridas do universo dos quadrinhos, desde sua criação em 1964, a menina de espírito rebelde e inteligência afiada conquistou gerações com suas reflexões críticas e bem-humoradas sobre o mundo ao seu redor. Agora, décadas após sua última aparição nos jornais, Mafalda retorna em uma nova forma, desta vez como uma série de animação produzida pela Netflix, em parceria com o estúdio Mundoloco CGI. A produção tem um nome de peso à frente: Juan José Campanella, renomado diretor argentino que ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2010 por “O Segredo de Seus Olhos”.

Preservando o Legado de Quino

Ao anunciar a nova série, Campanella destacou a responsabilidade de honrar o legado de Quino, cuja obra transcendeu fronteiras culturais e temporais. “É nossa obrigação preservar o humor, o timing, a ironia e as observações de Quino”, afirmou o diretor. Para ele, um dos principais desafios é manter a essência da personagem, que, embora seja uma criança, aborda questões profundas e complexas, muitas vezes mais compreensíveis para os adultos. Campanella expressou o desejo de que a série possa ser apreciada por diferentes gerações, permitindo que pais e filhos compartilhem a experiência de rir e refletir juntos, tal como acontecia com as tiras originais.

Mafalda na Netflix / Crédito: Divulgação

Mafalda na Netflix / Crédito: Divulgação

Mafalda: Uma Voz Contra a Opressão

A história de Mafalda é inseparável do contexto sociopolítico em que foi criada. Surgindo em 1964, em meio a um período turbulento na América Latina, incluindo o regime militar no Brasil, Mafalda se tornou uma crítica feroz e sutil aos regimes autoritários. Com seu discurso afiado e uma perspectiva crítica de esquerda, a personagem desafiava as normas estabelecidas e denunciava as injustiças do mundo adulto, tudo isso através dos olhos de uma criança.

As tiras de Mafalda foram publicadas em mais de 35 idiomas, e rapidamente se tornaram um fenômeno mundial. Porém, apesar de sua popularidade, Quino decidiu encerrar a produção das tiras em 1973, após nove anos de publicações. Essa decisão veio num momento em que a personagem estava sendo adaptada para uma série de desenhos animados, o que levou Quino a sentir que Mafalda estava se distanciando de sua natureza original, mais adulta e crítica.

O Desafiante Processo de Adaptação

A primeira adaptação animada de Mafalda, lançada em 1973, não agradou completamente a Quino. Ele sentiu que a personagem havia sido infantilizada no processo, perdendo parte de sua mordacidade e profundidade. Esse sentimento foi intensificado pelo ambiente político da Argentina, que se deteriorou ainda mais com o golpe militar de 1976. A ditadura que se instaurou no país, com censura e repressão, fez com que Mafalda desaparecesse dos meios de comunicação, devido ao seu conteúdo subversivo.

Apesar dessas dificuldades, Quino manteve um relacionamento mais positivo com a segunda adaptação animada da personagem, realizada em 1993 pelo cineasta cubano Juan Padrón, amigo íntimo do cartunista. Ainda assim, mesmo com a insistência de muitos, Quino nunca mais voltou a desenhar Mafalda, mantendo sua decisão de encerrar a trajetória da personagem nos quadrinhos.

Quino e a Nova Animação: Um Encontro de Gerações

Pouco antes de falecer, em 2020, Quino teve a oportunidade de visitar o escritório da nova produção da série de animação, e ficou impressionado com as inovações tecnológicas que permitiram digitalizar os traços dos personagens. Segundo Campanella, Quino ficou encantado com a possibilidade de dar forma à sua criação de maneira completamente nova, sem o uso de tinta e papel, ferramentas que ele havia dominado ao longo de sua carreira. “Seu entusiasmo era o de uma criança com um brinquedo novo”, revelou Campanella, lembrando com carinho das dezenas de perguntas que o mestre fez sobre o processo.

Essa visita de Quino ao estúdio representa um simbolismo profundo: a passagem do bastão de uma geração para outra, com a tecnologia permitindo que a essência da personagem seja mantida e transmitida para novas audiências. A série, que contará com Campanella como showrunner, também terá Gastón Gorali como corroteirista e produtor geral, além de Sergio Fernández como diretor de produção. Juntos, eles enfrentarão o desafio de adaptar uma obra tão querida e respeitada para um novo formato, mantendo a integridade do que fez de Mafalda um ícone.

Mafalda na Netflix / Crédito: Divulgação

Mafalda na Netflix / Crédito: Divulgação

O Futuro de Mafalda na Netflix

Ainda sem data de estreia confirmada, a expectativa em torno da nova série animada de Mafalda é alta. Fãs antigos e novos aguardam ansiosamente para ver como a personagem será retratada nesta nova era. A Netflix, que tem investido pesadamente em produções de animação nos últimos anos, vê na série uma oportunidade não apenas de homenagear o legado de Quino, mas também de apresentar Mafalda a uma nova geração de espectadores, muitos dos quais talvez nunca tenham lido as tiras originais.

A nova animação de Mafalda promete ser mais do que apenas um tributo a uma personagem histórica; é uma chance de revitalizar suas críticas sociais e políticas em um mundo que, embora muito diferente do dos anos 60 e 70, ainda enfrenta muitos dos mesmos desafios. Com Campanella no comando, há uma esperança real de que a série não apenas preserve o espírito de Mafalda, mas também amplie sua relevância para o público moderno, mostrando que a luta por justiça, igualdade e compreensão é atemporal.