O setor produtivo do Rio Grande do Sul prepara um movimento histórico em Cachoeira do Sul, o SOS Agro RS, que nesta quinta-feira (4) deve reunir milhares de produtores rurais de todo o Estado a partir das 8h no Parque da Fenarroz. A manifestação, que é tida pelos organizadores como apartidária, buscará demonstrar aos governantes que o campo tem pressa por soluções para os prejuízos causados pelas cheias de maio e para as dívidas remanescentes das últimas temporadas afetadas pelas estiagens.
“Como o produtor vai trabalhar, sem dinheiro e endividado? Temos urgência”, clama um dos organizadores do movimento SOS Agro RS, o produtor rural Lucas Scheffer, de Cacequi, manifestando preocupação já com a safra deste inverno. Pelas redes sociais, ele vem movimentando artistas e personalidades renomadas estadual e nacionalmente a convocarem o maior número possível de pessoas para o SOS Agro RS.
A reivindicação principal do grupo diretamente envolvido no SOS Agro RS, composto por produtores rurais de diversos portes e atividades, todos enfrentando problemas financeiros graves, seria para que o governo federal se manifeste sobre as medidas apresentadas pela Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) no dia 7 de maio, que incluem a prorrogação de dívidas, criação de uma linha de crédito com juros de 3% e prazo de pagamento de 15 anos, com até dois anos de carência.
O Rio Grande do Sul contabiliza a quarta safra consecutiva com perdas nas atividades agropecuárias, segundo divulgado pelo Canal Rural. De 2019 a 2022, foi a estiagem que causou prejuízos; já no ciclo 2023/24, o excesso de chuvas impactou negativamente a colheita. Segundo a Emater-RS, a perda média na soja é de dois milhões de toneladas, com algumas regiões ainda com mais de 50% da área plantada sem colheita. Na Metade Sul, cerca de 10% da área foi abandonada devido às condições péssimas dos grãos.
A área cultivada no estado está estimada em 6,6 milhões de hectares, com uma produtividade média estadual de 2.923 kg/ha. No entanto, algumas regiões colheram muito abaixo desse volume. As perdas não se limitaram à soja. Outras culturas, como milho em grão e silagem, além de áreas de arroz, foram severamente impactadas. A histórica enchente de maio afetou mais de 206 mil propriedades, sendo que 50 mil produziam grãos.
Atividades como criação de suínos, aves, bovinos, bovinos de leite, olerícolas e produção de frutas também sofreram impactos significativos.
No meio rural, 19.190 famílias enfrentaram perdas em estruturas das propriedades, como casas, galpões, armazéns, silos, estufas e aviários.
Na agroindústria, cerca de 200 empreendimentos familiares registraram prejuízos. Diante dessa situação, os produtores não conseguem cumprir os compromissos financeiros assumidos e reinvestir na recuperação das propriedades.
O QUE ESPERAR DO MOVIMENTO SOS AGRO RS EM CACHOEIRA DO SUL
Entre os políticos, confirmaram presença no SOS Agro RS autoridades como o presidente da Assembleia Legislativa do RS, Adolfo Brito (PP), o deputado federal Tenente Coronel Zucco (PL), bem como outros deputados e senadores de diferentes estados brasileiros. O movimento tem ainda a expectativa, ainda não confirmada, da presença dos ministros Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária) e Paulo Pimenta (da Reconstrução). São esperados entre 5 mil e 10 mil pessoas no movimento.
A diretoria da Federação da Agricultura do RS (Farsul) e da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS) já confirmaram apoio ao SOS Agro RS. Também são esperados representantes de outras entidades representativas da agropecuária e de sindicatos rurais do Estado. O SOS Agro RS defende o engajamento pacífico e diz que não serão permitidas bandeiras no evento e nem bebidas alcoólicas.
A programação do SOS Agro RS em Cachoeira do Sul terá palestras e discussões sobre os desafios e as perspectivas para o agro e diálogo com autoridades. Em manifesto replicado em grupos de whatsapp que contam com milhares de participantes, os produtores querem a oportunidade de expor suas necessidades.
MOVIMENTO SOS AGRO RS
O manifesto que circula nas redes sociais sobre o evento:
“Nosso objetivo é o direito para os produtores, totalmente pacífico, buscando defender os produtores:
- Frente unificada – Unindo os produtores rurais em uma frente unificada em prol dos interesses e direitos dos produtores da agricultura e pecuária e toda sua cadeia produtiva no estado do Rio Grande do Sul.
- Inclusão e representatividade – Todos os produtores, independentemente do porte ou especialização (seja na agricultura familiar, pequena, média, grande, do setor leiteiro, pecuária, orizicultura, uva, piscicultura, apicultura, soja, hortaliças, fruticultura, toda a cadeia produtiva, etc.), são essenciais e bem-vindos.
- Apartidarismo e foco no produtor – Nosso movimento é apartidário, sem uso de quaisquer bandeiras, centrado nos desafios e necessidades dos produtores, acima de quaisquer interesses políticos. Todo aquele que tiver interesse contrário, pedimos que se retire voluntariamente, e se, identificado, será retirado do grupo e responderá por quaisquer atitudes que não sejam as do objetivo do grupo. Buscamos aqui renegociação de dívidas que os produtores já vêm sofrendo primeiro com a seca dos últimos 3 anos e por último as chuvas que devastaram parte de nosso Estado. Se esse não for seu objetivo ou não concordar com estas regras pode se retirar do movimento SOS Agro RS.
- Apoio à Farsul – Comprometemos-nos integralmente com as demandas e propostas apresentadas pela Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul).
- Defesa da agricultura e pecuária e de toda sua cadeia produtiva – Nossa missão é assegurar que as políticas públicas atendam efetivamente às demandas da agricultura e pecuária gaúcha, garantindo sua viabilidade e crescimento sustentável.
- Transparência e democracia – Todas as decisões do movimento serão tomadas de forma transparente e democrática, assegurando a participação igualitária de todos os membros.
- Mobilização responsável – Nosso engajamento será sempre pacífico e responsável, respeitando integralmente as leis e regulamentações vigentes.
- Diálogo e negociação – Priorizamos o diálogo contínuo com autoridades e instâncias pertinentes, buscando a negociação como principal meio de alcançar nossos objetivos.
- Respeito e solidariedade – Celebramos a diversidade de opiniões e experiências entre os produtores, promovendo um ambiente de respeito mútuo e solidariedade.
- Compromisso com o futuro – Assumimos o compromisso de trabalhar incansavelmente pelo futuro próspero da agricultura e pecuária no Rio Grande do Sul, garantindo sua sustentabilidade para as gerações vindouras. Queremos possibilitar a permanência dos agricultores no setor e assim contribuir para reerguer o Estado do Rio Grande do Sul.”
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