Oliver Stone e “Lula”: quais os segredos do documentário?

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Oliver Stone e “Lula”: quais os segredos do documentário?
COLUNAS
20 de maio de 2024 - Oliver Stone e Lula / Crédito: Divulgação/ Ricardo Stuckert

O cineasta Oliver Stone levou o documentário “Lula”, sobre o presidente do Brasil, ao Festival de Cannes. Com base em uma série de imagens de arquivo dos noticiários da TV Globo e da Globo News, “Lula”, documentário de Oliver Stone e Rob Wilson, fez sua estreia mundial neste domingo (19) no evento. Ao fim da exibição, recebeu quatro minutos de aplausos no Palais des Festivals.

Mas, afinal, que é o controverso Oliver Stone e qual segredo que escondeu sobre o sucesso de “Lula” no festival?

 

Crédito: Antonio Cruz / Agência Brasil

Crédito: Antonio Cruz / Agência Brasil

Oliver Stone

Diretor de sucessos de pública e crítica como “Platoon” (1986), que lhe rendeu o Oscar, Stone é um estudioso da política latino-americana e iniciou em 2003 uma série de filmes sobre os líderes do continente, com “Comandante”, filme sobre Fidel Castro. Aliás, um fato camuflado pelo renomado cineasta é justamente sua predilição com a ideologia esquerdista. Mais uma vez, o enredo político de sua preferência acaba norteando uma obra. Desta vez, “Lula”.

 

Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

 

Até os ataques ao rival político Jair Messias Bolsonaro, derrotado nas eleições de 2022, estão no documentário. Além disso, a escolha de Cannes não aparenta ter sido por acaso. Oliver Stone sabia exatamente a preferência ideológica do público que estaria presente.

Oliver Stone é um dos cineastas mais influentes e polêmicos de Hollywood, conhecido por sua abordagem audaciosa e provocadora de temas sociais e políticos. Nascido em 15 de setembro de 1946, em Nova York, Stone construiu uma carreira marcada por filmes que desafiam o status quo e exploram as complexidades da sociedade americana e global.

Primeiros Anos e Influências de Oliver Stone

Stone é filho de uma mãe francesa e um pai americano de ascendência judaica. Ele frequentou escolas preparatórias na França e nos Estados Unidos, mas foi no Vietnã, onde serviu como soldado de infantaria, que suas visões sobre a vida e a guerra se moldaram significativamente. A experiência no Vietnã, que lhe rendeu duas Estrelas de Bronze e um Coração Púrpura, influenciou profundamente sua visão do mundo e, posteriormente, seu trabalho como cineasta.

Oliver Stone e Seu Início da Carreira Cinematográfica

Após retornar do Vietnã, Stone estudou na New York University Film School, onde foi aluno do renomado cineasta Martin Scorsese. Sua estreia no cinema foi com o filme “Seizure” (1974), um terror psicológico que não teve grande repercussão. No entanto, Stone começou a ganhar reconhecimento como roteirista, com trabalhos em filmes como “Midnight Express” (1978), pelo qual ganhou seu primeiro Oscar de Melhor Roteiro Adaptado.

O Vietnã e a Trilogia da Guerra

O trabalho mais aclamado de Stone começou com a sua própria trilogia sobre o Vietnã, que inclui “Platoon” (1986), “Born on the Fourth of July” (1989) e “Heaven & Earth” (1993). “Platoon” foi baseado em suas próprias experiências de combate e é amplamente considerado um dos filmes mais realistas sobre a guerra do Vietnã. O filme ganhou quatro Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor para Stone.

“Born on the Fourth of July” é uma adaptação da autobiografia de Ron Kovic, um veterano do Vietnã que se tornou ativista anti-guerra. Este filme rendeu a Stone seu segundo Oscar de Melhor Diretor. “Heaven & Earth” completou a trilogia, focando na perspectiva vietnamita da guerra.

Polêmicas e Conspirações de Oliver Stone

Stone é conhecido por abordar temas polêmicos com uma perspectiva que muitas vezes desafia as narrativas convencionais. “JFK” (1991), por exemplo, explora as teorias de conspiração em torno do assassinato do presidente John F. Kennedy. O filme, estrelado por Kevin Costner, gerou controvérsia por suas sugestões de um complô envolvendo altos funcionários do governo americano. “JFK” foi indicado a oito Oscars, ganhando dois.

Outro exemplo é “Natural Born Killers” (1994), um filme satírico que critica a glorificação da violência pela mídia. O filme foi controverso devido à sua representação gráfica da violência e suas implicações sociais.

Oliver Stone Explorando Ícones Políticos

Stone também é conhecido por seus filmes biográficos sobre figuras políticas controversas. “Nixon” (1995) oferece um retrato complexo do presidente Richard Nixon, enquanto “W.” (2008) explora a vida e a presidência de George W. Bush. Ambos os filmes apresentam uma abordagem crítica, mas humanizadora, dos seus protagonistas, revelando suas falhas e complexidades.

Documentários e Projetos

Nos últimos anos, Stone tem se concentrado em documentários. “Comandante” (2003), “Looking for Fidel” (2004) e “South of the Border” (2009) são documentários que exploram as vidas e políticas de líderes latino-americanos como Fidel Castro e Hugo Chávez. Stone entrevistou Vladimir Putin em “The Putin Interviews” (2017), uma série documental que oferece uma visão íntima e controversa do líder russo.

Legado e Influência de Oliver Stone

Oliver Stone é, sem dúvida, um dos cineastas mais divisivos da história do cinema. Seu estilo narrativo ousado e sua disposição para abordar temas difíceis e controversos lhe renderam tanto admiração quanto críticas. Seu legado é marcado por uma vontade inabalável de desafiar a autoridade e questionar as verdades aceitas.

Stone continua a ser uma figura importante no cinema contemporâneo, conhecido por sua capacidade de provocar pensamento crítico e diálogo através de suas obras. Seus filmes, frequentemente intensos e emocionalmente carregados, oferecem uma janela para a psique de um país em constante evolução e os dilemas que enfrenta.

Oliver Stone permanece, acima de tudo, um contador de histórias destemido, comprometido com a exploração da verdade, por mais desconfortável que ela possa ser. Seu trabalho desafia os espectadores a olhar além das aparências e questionar o que muitas vezes é aceito sem contestação, solidificando seu lugar como um mestre do cinema provocativo e engajado.