Por Milos Silveira – Leitura de fim de semana
Das coisas e situações cotidianas que por vezes se apresentam pra gente, pra mim, uma das mais comoventes é a expressão de um sorriso triste no rosto de alguém. Nem mesmo o choro é tão triste quanto um sorriso triste. Porque o choro expressa com verdade e sinceridade um sentimento de tristeza, de dor.
O sorriso triste, não. O sorriso triste expressa um sofrimento quase que em dobro, um esforço de quem sofre em tentar disfarçar a sua tristeza ou mesmo se solidarizar com quem está alegre à sua volta, num astral completamente oposto ao seu.
Sempre fui de me compadecer muito com as tristezas dos outros e se importar muito menos com as minhas que, aliás, tiro de letra, na boa. Até consigo rir de algumas delas, parafraseando Renato Russo em “A Via Láctea”, “fingindo estar sempre bem, vendo a leveza das coisas com humor”.
Mas nunca experimentei nada nessa vida que me tirasse mais o chão do que ver tristeza ou discórdia entre as pessoas à minha volta, mesmo aquelas que não são tão próximas quanto as que de fato amo.
E não consigo entender como há quem não se importe tanto com isso. É um jeito de ser, de pensar, sentir e reagir que trago comigo desde sempre.
E ver um sorriso triste no rosto de alguém me detona, estraga o meu dia. Parece uma facada. Nem mesmo quem porventura a gente nem goste tanto assim merece esse sofrimento em dobro.
Mas alguém deve estar se perguntando: tá, mas e por que abordar isso, assim, do nada?
Porque ontem vi um sorriso triste e desconhecido numa fila de lotérica e bateu um sentimento ruim, de impotência de não conseguir tirar o sorriso triste daquele rosto. E fiquei pensando a respeito.
No fim, a lição que fica é simples: não há como acabar com as tristezas e os sorrisos tristes das pessoas do mundo inteiro. Mas evitar que isso aconteça pelo menos com as nossas já é, sem dúvida, um singelo primeiro grande passo.