Na década de 80, o Carnaval de Rua de Cachoeira do Sul era realizado na Rua Sete de Setembro entre a Avenida Presidente Vargas e a General Portinho, no centro da cidade. A organização ficava a cargo da Secretaria Municipal de Turismo (Setur). O público tomava conta das calçadas e o palanque com os jurados e convidados era montado no cruzamento com a Rua Sílvio Scopel entre a Apesul e a Farmácia Moderna. A festa atraía a atenção de todos pela criatividade dos blocos e das escolas de samba.
Justamente neste ponto, em uma oportunidade, um sapato foi jogado contra o júri por um carnavalesco descontente com o resultado, o que gerou confusão, empurra-empurra e uma gritaria generalizada. Foi um protesto inusitado. A ação aconteceu bem próximo do palanque e em meio a outras agremiações e o público, que aguardava ansiosamente a divulgação dos campeões da festa.
O tal carnavalesco era conhecidíssimo. Era figura marcante do Carnaval e sua escola de samba disputava pra valer cada quesito da festa. A reação surpreendeu todo mundo que estava em frente à Praça José Bonifácio, bem onde ficavam as arquibancadas e os foliões após a dispersão. Em meio à divulgação do resultado, ele simplesmente se agachou, tirou um sapato dos pés e arremessou contra os jurados. Foi um susto e naquele quando todo mundo se olhava apavorado, teve alguém que não sei quem era que, para agitar ainda mais o ambiente, gritou:
– Vem mais. Vem mais.
Outros diziam:
– Calma. Calma.
Neste contexto, entrou em ação a turma do “deixa disso”, os ânimos se acalmaram e o protesto se resumiu só no sapato. A indignação partiu do figurinista Markito, da Escola de Samba Independente, tradicional agremiação da cidade. O caso ganhou repercussão porque foi bem na época em que um jornalista iraquiano atirou sapatos contra o ex-presidente americano, George W. Bush. Nos bastidores da cidade, todos diziam que a moda da sapatada na verdade começou no Carnaval de Rua de Cachoeira.
Pelo sim e pelo não, o figurinista Markito teve uma expressiva presença dos carnavais da cidade. Sempre dedicado com suas fantasias e uma entrega total para sua escola de samba. Ele faz parte da história da folia de Momo, assim como sua sapatada, que tive a oportunidade de registrar nas tantas coberturas de Carnaval que participei desde o final da década de 70.