Delegado em maus lençóis

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Delegado em maus lençóis
CACAU MORAES
8 de outubro de 2022 - cacauzinho

O ano era 2016. O local era o Beco dos Trilhos, área central de Cachoeira do Sul. Uma operação da Polícia Civil cumpria mandado de busca e apreensão no conhecido ponto de venda de drogas da cidade. Diversos policiais com viaturas fecharam o acesso principal do Beco para realizar a ação comandada por um delegado.

A presença do contingente policial chamou atenção dos moradores. Era uma tarde de dia de semana. Um colega de imprensa, especializado na área da segurança, em sua viatura devidamente identificada como veículo de imprensa, acompanhava o trabalho dos policiais. Fazia fotos, porque depois iria escrever seu texto sobre a operação. Aliás, seu conhecimento jornalístico é elogiável até os dias de hoje.

No Beco, após cumprirem a missão, as viaturas começaram a se afastar. Nesse momento, encerrada a operação, as viaturas se dirigiam para a delegacia e o delegado ficava para trás para sair por último local. O delegado demorou um pouco porque conversava com o meu amigo repórter sobre a operação, quando de repente um adolescente cuspiu na viatura que era dirigida por um agente. Imediatamente o delegado reagiu cobrando a falta de educação do jovem e rapidamente foi cercado por outros adolescentes.

Aí virou uma confusão. O delegado foi hostilizado, palavrões e até chutes fizeram parte da reação de uma gurizada em protesto contra a ação da Polícia no Beco. Mulheres e demais moradores também engrossaram a manifestação com gritos e gestos. O clima esquentou tanto que o delegado ficou encurralado, pois nesse momento já estava sozinho no Beco. Estava armado, mas optou pelo celular para avisar seus comandados, que deveriam voltar imediatamente porque ele estava em maus lençóis. A situação estava tomando proporções perigosas.

Neste meio tempo, o meu colega repórter correu para dentro da viatura do jornal, fechou os vidros e travou as portas do carro. Claro, baixou a cabeça para se esconder e até buscar proteção caso o protesto se voltasse contra ele. Este colega pensou:

– O delegado tem uma pistola. Eu tenho uma caneta Bic. Vou ficar bem quieto, na minha.

Assim que um numeroso grupo de policiais retornou ao Beco, o delegado respirou e aí foi a vez dele reagir diante do que estava acontecendo. Claro, ele passou a ter forte suporte com o reforço policial que havia chegado. Foi uma correria por todo o lado. A gurizada se dispersou, e todos puderam sair ilesos do Beco dos Trilhos. Não houve tiros.

O Beco dos Trilhos é alvo até hoje dos órgãos de segurança. Tanto a Polícia Civil como a Brigada Militar realizam constantemente operações no local, mas o caso do delegado encurralado ficou na história das ações policiais de Cachoeira do Sul.