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Rumo aos 200 anos: pesquisadora revela fato curioso de “escravas em arruaça”

Foto: Arquivo Histórico

A pesquisadora Mirian Ritzel é uma peça fundamental quando o assunto é a história de Cachoeira do Sul. Sua paixão pelo tema pode ser facilmente notado pelo brilho de seu olhar quando aborda o assunto. Com a proximidade da passagem dos 200 anos do Município, as investigações de Mirian despertam ainda mais curiosidade. E na sequência da série especial “Rumo aos 200 anos”, o Portal OCorreio apresenta uma das mais recentes divulgações* desta profissional apaixonada por Cachoeira.


Na época da Câmara Municipal, mais precisamente no final da década de 1880, o Delegado de Polícia do Termo da Cachoeira contratava cidadãos para exercerem o papel de polícia particular. A atribuição destes cidadãos era zelar pela segurança e ordem pública, reportando ao delegado toda e qualquer ocorrência que verificassem em suas rondas. Outra atribuição deles era a de verificar o estado da iluminação pública que, à época, era feita por lampiões acendidos e apagados diariamente por um encarregado especial, o acendedor de lampiões.

Uma “parte”, que era assim o nome do documento emitido pelo encarregado de prestar contas da ronda ao delegado de polícia, emitida em 20 de novembro de 1887, relatou um acontecimento interessante:

Foto: Arquivo Histórico

Quartel da Policia Particular em Cachoeira, 20 de Novembro de 1887.
Parte:
Illm.º Sr.º
Fiz a ronda nas principaes ruas da cidade, até ás 12 horas da noite e confórme as ordens de V.S.; rondei as patrulhas compostas das praças Bento, e Victorino; Muniz e Galdino; Crescencio e Joaquim; Olimpio e Luiz Strell que achavam-se postadas em seus respectivos districtos, as quaes deram-me parte de não ter havido novidade durante o serviço das mesmas, exceptuando a patrulha Muniz e Galdino que apitando soccorro acudi logo ao lugar donde partio o apito, rua General Portinho, e ahi efectuou-se a prisão de Maria, escrava do Sr.º Barão de Kalden e de Marcellino de tal, por offensas a moral, e fiz recolher ambos á cadeia, a ordem de V.S. Ás 8h 1/2 horas da noite mais ou menos, foram por mim presas: a preta Jacintha, escrava de D. Anna Pereira, e a parda Joaquina, fragrante, por crime de furto de farinha na padaria do Sr.º Antonio Domingos, e immediatamente fiz recolher ambas á cadeia a ordem de V.S., e cujo furto acompanha esta. A illuminação publica na rua Sete e travessas esteve bôa, a da rua do Imperador foi aceza ás 10 1/2 horas.
Deus Guarde a V.S.

Illm.º Sr.º Hilario José de Barcellos, Muito Digno Delegado de Policia deste Termo.

O sargento da policia particular, Antero Marcellino da Silva

O documento mostra como eram as rotinas envolvendo a ordem e a segurança pública da Cidade da Cachoeira em 1887. Dá o nome do delegado de polícia, Hilário José de Barcellos, descendente de tradicionais famílias cachoeirenses, informa os nomes das escravas envolvidas e seus donos, um deles o conhecido Barão de Kalden. Fornece também o nome do proprietário de uma das padarias da cidade, alvo do furto flagrado pelos agentes particulares.

O Barão de Kalden foi administrador da Colônia Santo Ângelo (de imigrantes alemães) e vereador da Câmara Municipal. Outro dado interessante fornecido pelo documento se refere aos nomes das ruas. A citação da Rua General Portinho, cuja lei de denominação ainda não foi localizada, permite saber que em 1887, ou seja, um ano depois da morte do general, aquela via já era assim batizada. A outra rua, a do Imperador, corresponde hoje à Rua 15 de Novembro. A antiga denominação vigorou enquanto o Brasil foi império, adotando o atual nome após a proclamação da República que se deu em 15 de novembro de 1889.

*O texto original pode ser visto AQUI

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